📝 ensaios e entrevistas
100 anos de Jonas Mekas (1922 – 2019)
O último sábado (24/12) marcou o centenário do artista lituano Jonas Mekas, um dos cineastas experimentais mais importantes de toda a história do cinema. Responsável pelo clássico moderno Ao Caminhar Entrevi Lampejos de Beleza (2000), Mekas produziu uma quantia incalculável de filmes por sua vida, tendo publicado também mais de vinte livros de prosa e poesia. Foi frequente colaborador de artistas como Andy Warhol, Hollis Frampton, Stan Brakhage e Yoko Ono, assim como mentor de outros diretores renomados, como Barbara Rubin, John Waters e Martin Scorsese.
Abaixo, compilei um dossiê de links para qualquer pessoa já versada ou interessada em conhecer um pouco mais do legado do diretor.
Conversa entre Jonas Mekas e Stan Brakhage, 2000 [entrevista].
Última entrevista concedida pelo diretor, The Guardian, 2019 [entrevista].
Catálogo feito para a mostra Jonas Mekas, retrospectiva do CCBB, 2013 [pdf].
The Godfather of Avant-Garde Cinema, vídeo-ensaio tributo ao diretor pelo centro cultural The Shed [vídeo].
Essential Cinema, projeto capitaneado pelo diretor, com auxílio de artistas como Peter Kubelka e Ken Jacobs, cujo objetivo era expandir ao público geral um novo cânone da história do cinema, com enfoque no experimental, 1970–1975 [site].
Extra: Jonas Mekas defende Britney Spears no ápice da perseguição midiática contra a cantora, 2007 [vídeo].
Nesse momento, a guerra acabou e os americanos vieram. Por isso todos nós começamos a aprender inglês. Mas naquela época eu já tinha chegado a um ponto em que conhecia muitas línguas e as conhecia mal. Então eu e meu irmão chegamos a uma conclusão genial: Agora aprenderemos a língua do cinema, uma linguagem que todos entendem.
Então viemos a Nova York, pegamos uma câmera Bolex e começamos a filmar. Começamos a conhecer outros jovens que também filmavam. E começamos a mostrar nossos filmes aos nossos amigos mais velhos e mais sábios. E eles olharam para nossos filmes, depois olharam para nós, balançaram a cabeça e disseram: Não entendemos o que você nos mostrou. O que é isso? Não é cinema. Nós sabemos o que é o cinema; nós vamos ao cinema.
Nós ficamos arrasados: Tínhamos aprendido a linguagem errada do cinema! A linguagem da vanguarda, da poesia...
E foi nesse momento que decidimos abandonar todas as línguas, inclusive as do cinema, e fazer apenas o que gostávamos, mesmo que ninguém nos entenda, com exceção de nossos amigos.
– Trecho do livro A Dance with Fred Astaire (2017), fotolivro autobiográfico de Mekas.
a sessão dupla dos sonhos
Foi publicada nessa terça-feira (27/12) o resultado da 15ª edição do Fantasy Double Features. Trata-se um evento onde os escritores contribuidores da Notebook, a revista digital da MUBI, criam uma sessão dupla hipotética formada por uma conexão entre dois filmes: um lançamento de 2022, e um filme lançado num ano posterior, mas que o escritor assistiu pela primeira vez este ano.
Destaquei algumas das escolhas, assim como a explicação por trás delas:
Aftersun + As Coisas Simples da Vida (2000): “Fotos instantâneas de oportunidades desperdiçadas, ou fragmentos de infâncias aparentemente inocentes”.
Stars at Noon + A Baía dos Anjos (1963): “A combinação mortal entre amantes selvagens, o calor sufocante do verão e o desejo de jogar sua vida fora”.
Showing Up + Girlfriends (1978): “Dois retratos de mulheres brilhantes que lidam com carreiras artísticas, ciúmes, amizades, e a interseção entre os três”.
Fogo-Fátuo + Ludwig (1973): “Dois contos queer sobre membros disruptivos de uma corte real que sucumbem aos seus mais pulsantes desejos carnais... o que não há para amar?”
Aliás, por curiosidade – eu adoraria saber a de vocês! Convido vocês a compartilhar uma ideia de sessão dupla, seguindo esse mesmo esquema da votação da Fantasy Double Features, nos comentários dessa edição da Recortes.
Para esse ano, a minha sessão dupla seria o piloto da série Columbo, Prescription: Murder (1968), e o filme novo do Greg Mottola, Confess, Fletch, simplesmente porque eu sinto uma falta imensa de filmes sobre detetives que operam na força do deboche.
r.i.p Ruggero Deodato (1939–2022)
Faleceu nessa quinta-feira (29/12) o diretor italiano Ruggero Deodato, um dos nomes mais reconhecidos do cinema de terror italiano, particularmente pela idealização de um dos filmes mais polêmicos da história do cinema, Holocausto Canibal (1980). Deodato começou sua carreira como assistente de direção de diretores renomados como Roberto Rosselini, Sérgio Corbucci e Carlo Ludovico Bragaglia até se aventurar no cinema de terror com sua estreia, O Último Mundo dos Canibais (1977).
Ensaio sobre o filme Holocausto Canibal e entrevista com o diretor para o blog Bloody Disgusting, 2020.
Entrevista com o diretor para a revista Eletric Sheep, 2010.
🤔 o que assistir nesse final de semana?
henri (gratuito): Tsai Ming-Liang
A plataforma de streaming francesa HENRI disponibilizou recentemente uma versão remasterizada do curta-metragem A Passarela se Foi (2002), do diretor taiwanês Tsai Ming-Liang.
Sinopse: Devido à demolição não anunciada de um viaduto de pedestres em Taipei, uma mulher não consegue atravessar uma rua com sua mala pesada. No mesmo local, uma garota procura por um vendedor ambulante.
Duração: 22 minutos. Disponível até o final de janeiro (31/01).
mubi ($): Walter Hill
A MUBI disponibilizou nesta terça-feira (27/12) o filme Caçador de Morte (1978), de Walter Hill. Fracasso de público em seu lançamento, a obra alcançou status cult e influenciou diretores como Quentin Tarantino e Nicolas Winding Refn. Walter Hill também dirigiu o recente Dead for a Dollar, filme de faroeste que não foi tão lembrado nas listas de melhores de 2022, mas que vale uma conferida.
Sinopse: Um motorista é contratado como piloto de fuga profissional por um experiente grupo de assaltantes. O que ele não imagina é que, há bastante tempo, um detetive está na sua cola e esperando uma brecha para capturá-lo.
Duração: 92 minutos. Disponível até final de janeiro.
🍿 links de interesse
🕴️ Ontem (30/12) foi o aniversário de 55 anos da cineasta Lilly Wachowski [tweet].
👱🏻♀️ O último sábado (24/12) marcou o aniversário de 75 anos do filme A Dama de Shanghai (1947), de Orson Welles [trailer do filme].
🇯🇵 Rolou também, no último sábado, a estreia do corte final de REVOLUTION+1, filme novo do diretor Masao Adachi, de A.K.A. Serial Killer (1975), que traça uma biografia do assassino de Shinzō Abe, ex-primeiro-ministro do Japão [trailer do filme].
Caçador de Morte é fortíssimo, finalmente apareceu em algum streaming