RECORTES #43
o cinema para as semanas de 23 de março a 5 de abril, 2024.
📝 ensaios e entrevistas
percepções da cinefilia – os melhores filmes da década de 1970
O que se iniciou como uma brincadeira entre amigos em 2019 para elencar os melhores filmes da década de 2010, hoje se tornou um evento que chacoalha por completo o meio de cinema brasileiro.
O Percepções da Cinefilia é um evento semianual, criado e gerenciado por Pedro Lovallo, no qual um corpo de votantes formado por mais de 200 pessoas, dentre eles cinéfilos, críticos, pesquisadores e realizadores, elenca seus filmes favoritos de uma década determinada. Cada um dos participantes pode enviar 20 filmes de sua escolha, ordenados ou não.
O resultado para a década de 1970 foi publicada no final de março (23/03), com 901 filmes diferentes citados. O Top 5 foi composto pelos seguintes filmes:
Jeanne Dielman (1975), dir. Chantal Akerman (98 citações)
Uma Mulher sob Influência (1974), dir. John Cassavetes (90 citações)
Sem Essa, Aranha (1970), dir. Rogério Sganzerla (79 citações)
O Massacre da Serra Elétrica (1974), dir. Tobe Hooper (77 citações)
Céline e Julie Vão de Barco (1974), dir. Jacques Rivette (60 citações)
Apesar de não ter aparecido com um filme no Top 30, o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder foi o artista com mais filmes mencionados pelos votantes. Com 13 filmes citados1, o mais bem colocado deles foi O Medo Consome a Alma (1974), que ficou na 39ª posição.
Por se tratar de uma coleção de filmes particularmente diferenciada da norma padrão, o resultado causou um sentimento de indignação por parte de uma cinefilia “mais tradicional”2, com acusações de iconoclastia contra os votantes por motivos gravíssimos como… O Poderoso Chefão ter ficado “apenas” na 17ª posição. Como bem apontado por outros, existem questões mais interessantes a serem discutidas sobre a lista, como a clara ausência no Top 100 de filmes do cinema africano (Touki Bouki, sozinho, ficou na 81ª posição) e da pouca representação do cinema negro (O Matador de Ovelhas, de Charles Burnett, ficou na 52ª). Cabe relembrar que o cinema não se resume aos gostos de críticos como Roger Ebert ou do que está listado em livros excessivamente norte-americanos como “1001 Filmes para Ver antes de Morrer”.
Comentários esdrúxulos à parte, eu recomendaria o texto escrito pelo Lovallo sobre os resultados da votação dos anos 80 para entender o contexto por trás do resultado da lista. Citado no texto de Lovallo, o ensaio Light My Fire: The Geology and Geography of Film Canons, de Adrian Martin, também é uma excelente leitura para uma melhor compreensão de como cânones cinematográficos são formados.
Assim como aconteceu na votação dos anos 80 em 2022, a cinefilia carioca poderá assistir vários dos filmes mais bem posicionados da lista na Cinemateca do MAM. A mostra Percepções da Cinefilia: Anos 70 acontece em maio, daqui a um mês, com entrada gratuita. Estaremos listando os horários da mostra em futuras publicações da Cinema no Rio.
r.i.p Laurent Achard (1964–2024)
Faleceu no final de março (25/03) o diretor francês Laurent Achard. Apesar de não tão celebrado na esfera internacional, Laurent era um dos principais nomes do cinema contemporâneo francês, tendo sido premiado em 2006 com o Jean Vigo pelo longa-metragem O Último dos Loucos (2006). Era amigo pessoal dos cineastas Paul Vecchiali e Jean-Claude Brisseau, com os quais fez documentários.
Entrevista com Laurent Achard para a Les Inrockuptibles, 2011 [entrevista].
Patricia Mazuy fala sobre Laurent Achard e seu documentário Avant Saturne [entrevista].
entrevistas da semana
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🤔 o que assistir nesse final de semana?
youtube (gratuito): Laurent Achard
O curta-metragem La peur, petit chasseur (2004), de Laurent Achard, foi publicado no YouTube.
Sinopse: Uma casa no campo, em um dia de novembro. Em um canto do jardim, uma criança espera em silêncio.
Duração: 7 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
mubi ($): Nikki Cimino
A MUBI disponibilizou o filme O Franco Atirador (1978), da cineasta norte-americana Nikki Cimino.
Sinopse: Três amigos de longa data preparam-se para servir na Guerra do Vietnã logo após uma última caçada em grupo e o casamento de um deles. No Vietnã, os sonhos de honra militar são rapidamente dissolvidos pela crueldade da guerra.
Duração: 182 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
🍿 links de interesse
🤺 Vídeo do diretor Manoel de Oliveira jogando esgrima com sua bengala e dançando como Charlie Chaplin narrado por Agnès Varda [vídeo].
✋ De acordo com a DEADLINE, o filme de abertura da edição de Cannes deste ano será a nova comédia do diretor francês Quentin Dupieux, O Segundo Ato [artigo].
🗒️ Esbarrei com isso na semana passada: uma lista contendo os 100 filmes favoritos do cineasta japonês Akira Kurosawa. A lista vem de sua autobiografia, “A Dream is a Genius”, publicada em 1999 [lista].
💻 Para o RogerEbert.com, o crítico Matt Zoeller fala sobre o cinema perdido de 2020: filmes que mereciam um destino melhor, mas foram relegados ao streaming em casa devido a pandemia da COVID-19 [artigo].
🕛 O diretor Takashi Miike, de Audition (1999), filmou um novo curta-metragem, de 19 minutos de duração, inteiramente filmado num iPhone 15 Pro. O curta Midnight é uma adaptação cinematográfica de um mangá do autor Osamu Tezuka [youtube].
🤠 De acordo com a artista Beyoncé, todas as músicas do seu novo disco foram inspiradas por filmes de faroeste. Entre os diretores dos filmes citados pela cantora: Clint Eastwood, James Bridges, Martin Scorsese e Quentin Tarantino [artigo].
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Só na década de 1970, Fassbinder fez 33 longas-metragens.
Ou conservadora.