📝 ensaios e entrevistas
ainda sobre jeanne dielman – o melhor filme de todos os tempos da última semana
Na última edição da Recortes, eu acabei por priorizar uma análise sobre o resultado da nova enquete de melhores filmes da Sight & Sound e apenas pontuei brevemente sobre o fato de Jeanne Dielman (1975) ter se destacado como número um. Achei válido que hoje eu poderia tomar um espaço dessa edição para compartilhar alguns adendos sobre o filme, assim como a sua diretora, Chantal Akerman (1950 – 2015).
Para os interessados em assistir ao filme, a plataforma de streaming FILMICCA possui Jeanne Dielman, assim como outros 15 filmes de Akerman, em seu catálogo. Após o filme, vale conferir também Autour de Jeanne Dielman (1975), documentário sobre a produção da obra de Chantal que foi disponibilizado gratuitamente pelo portal Another Gaze.
O Francisco Vidal publicou há pouco tempo no seu blog uma tradução em português de uma entrevista que a diretora concedeu em 2011 à teórica Nicole Brenez para a finada revista digital LOLA. Eu desconheço uma entrevista tão completa e esclarecedora sobre a vida e obra da cineasta quanto essa.
Vale também a indicação do livro Nada Acontece: O Cotidiano Hiper-realista de Chantal Akerman, da autora Ivone Margulies, possivelmente o melhor livro em português disponível atualmente sobre os filmes de Akerman. Dependendo serve como um bom presente de natal para aquela amizade cinéfila.
Ainda, também, sobre a lista da Sight & Sound, gostaria de recomendar duas análises que li sobre o resultado da enquete: “As listas, suas limitações e o que podemos fazer com elas”, um artigo redigido pelo crítico Sérgio Alpendre, e a última publicação do Cauê Dias Baptista na sua newsletter Boletins de Emergência.
Como eu comentei na edição anterior, os votos dos participantes só serão publicados no site deles em janeiro, mas alguns sortudos já estão com a revista da Sight & Sound em mãos. O portal World of Reel fez o trabalho sujo de exportar uma parte considerável das listas individuais para a internet.
o cinema reflete sobre o #metoo
Já fazem mais de cinco anos do estopim do movimento #MeToo. Em outubro de 2017, o periódico New York Times revelou ao mundo o histórico de agressão e assédio sexual permeado pelo produtor de cinema Harvey Weinstein. Os bastidores por trás do jornalismo investigativo foram adaptados recentemente pelo filme Ela Disse, da diretora Maria Schrader, que estreou ontem (08/12) no circuito comercial brasileiro.
A partir desta e outras novas produções como Tár e Women Talking, as jornalistas Adrian Horton (The Guardian), Dana Stevens (Slate) e Tavi Gevinson (New Yorker) trouxeram reflexões sobre o recente influxo de obras deste ano que procuram lidar com o tema do abuso e violência sexual a partir de “espaços negativos”: ao evitarem a retratação (e reiteração) da vivência da tortura, estas novas produções tendem a preferir o uso de elipses, se ausentando da retratação do trauma ou da cumplicidade.
r.i.p Julia Reichert (1946 – 2022)
Faleceu na quinta-feira passada (01/12) a cineasta Julia Reichert, documentarista que teve como objetivo artístico por toda sua carreira documentar a sociedade estadunidense sob uma ótica feminista e socialista. Julia iniciou sua carreira com Growing Up Female (1971), um dos primeiros filmes não-ficcionais a registrar a segunda onda feminista. Sua obra mais popularmente conhecida é o recente Indústria Americana (2019), que chegou a vencer o Oscar na categoria Melhor Documentário.
entrevistas da semana
Martha Coolidge, Filmmaker: A diretora fala sobre sobre o processo de filmagem do seu primeiro filme, Not a Pretty Picture (1975), que foi recentemente restaurado e exibido no Academy Museum of Motion Pictures, o museu do Oscar.
Mia Hansen-Løve, The Film Stage: A artista francesa fala sobre seus últimos três filmes, suas inseguranças artísticas e do romance e eroticismo em seu filme Maya (2019).
Joanna Hogg & Tilda Swinton, The Film Stage: Acompanhada de sua atriz principal, Joana Hogg fala sobre seu novo filme, The Eternal Daughter.
🤔 o que assistir nesse final de semana?
another screen (gratuito): cinema iraniano feminino e não-binário
A plataforma de streaming Another Screen disponibilizou uma programação especial nessa segunda-feira (05/12) nomeada Films from Iran for Iran. Trata-se de uma amostra voltada para o trabalho de múltiplas artistas mulheres e não-bináries do cinema iraniano produzido desde 1979, ano da Revolução Iraniana.
A programação serve como uma demonstração de solidariedade à recente onda de protestos no país provocada pelo assassinato da iraniana Mahsa Amini. A jovem curda de 22 anos morreu sob custódia da polícia por supostamente violar as regras de uso do véu islâmico, o hijab. De acordo com a plataforma Another Screen, quase cem cineastas foram presos desde o início dos protestos e aguardam julgamento e sentença; cinquenta estão agora na prisão.
Composta por mais de 20 filmes produzidos por 15 artistas diferentes, a amostra também inclui ensaios, entrevistas e declarações das próprias realizadoras sobre a atual situação política do Irã.
Disponível até o início de janeiro (04/01).
novocine (gratuito): Manuela Serra
A plataforma de streaming NOVOCINE disponibilizou gratuitamente uma cópia restaurada da obra O Movimento das Coisas (1985), único filme da diretora portuguesa Manuela Serra.
Sinopse: Feito entre 1978 e 1984, ao longo de quase 10 anos, O Movimento das Coisas trata-se de um filme etnográfico que aborda o cotidiano de uma comunidade rural de Lanheses, no concelho de Viana do Castelo.
Disponível até sexta-feira que vem (16/12).
🍿 links de interesse
🛩️ Ontem (08/12) foi o aniversário de 25 anos do filme Jackie Brown (1997), de Quentin Tarantino [trailer do filme].
🇮🇳 O National Film Archive of India anunciou planos para restaurar cerca de 5.000 clássicos do cinema indiano [artigo].
🌝 Ontem também teria sido o aniversário do diretor George Méliès (1861–1938). A Sight & Sound resgatou um artigo escrito por ele para a revista [artigo].
💃🏼 Hoje teria sido o aniversário do cineasta John Cassavetes (1929–1989). Esse vídeo dele tocando o terror no Dick Cavett Show junto ao Peter Falk e o Ben Gazzara é um clássico [vídeo].
🇧🇷 Aparentemente o diretor Julio Bressane vai estrear um filme na próxima edição Festival de Rotterdam chamado The Long Voyage of the Yellow Bus. Ele possui 7 horas de duração [site].
Obrigado por ler esta edição da Recortes de Película!
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que edição maravilhosa, pedro!