📝 ensaios e entrevistas
a 96ª (e última) edição da cinema scope
Essa última quarta-feira (24/01) começou com uma triste notícia: após 25 anos de publicação, a nova edição física da revista estadunidense Cinema Scope também será a sua última.
Se conseguiremos ou não manter um site é uma questão a ser revista futuramente, mas não haverá mais edições impressas do Cinema Scope nesse formato, comigo no comando. Peço desculpas a todos que estão desapontados, também estou, mas não tenho mais energia para lutar depois de quase 25 anos de trabalho voluntário.
[…] No final das contas, o que me deixa mais triste com o fim dessa iniciativa é a possibilidade de não haver espaço para que o trabalho de cineastas seja tratado com o intelecto e respeito que merecem na mídia impressa. Ao contrário de outras pessoas, acredito que há recursos na Internet que proporcionem isso - qualquer pessoa é livre para criar um - e que o fim desta revista não representa “o fim” de nada, exceto o de matar árvores. O mundo (do cinema) mudou muito desde 1999 e, embora eu tenha feito o possível para tentar mudar junto a ele, talvez seja hora de vozes diferentes assumirem posições de autoridade.
Este anúncio, somado à recente notícia da absorção do portal de música Pitchfork à revista GQ, é mais um claro indício de que vivemos um momento deveras complicado na crítica artística.
Por mais que ainda vejamos um fluxo de ótimos blogs dedicados ao pensamento crítico nas artes hoje, é naturalmente trágico ver esse espaço ser cada vez mais dominado por um comentarismo cultural morno. Cheguei a comentar sobre esse mesmo assunto ano passado aqui na Recortes no contexto de críticos de cinema serem substituídos por “influenciadores” em sessões de cabine, e infelizmente é o que temos para o futuro.
O texto crítico não é lucrativo (nunca foi feito pra ser), e por via das regras do mercado ele inevitavelmente perderá espaço para atividades como “vídeo-críticas”, que não passam de serviço jornalístico, colunismo social ou material para memes. Os autodescritos “vídeo-ensaios” presentes no YouTube, originalmente um respiro de originalidade, se tornaram vídeo-aulas de formato viciado que se limitam a expôr versões condensadas de teorias críticas já milenares (isso quando não são um grande projeto de plágio).
Não queria começar a edição de hoje de maneira tão negativa, mas fica difícil quando a maior notícia da semana envolvendo cinema é o fato da política Hillary Clinton ter se manifestado contra o Oscar após o filme Barbie ter sido supostamente esnobado (com 8 indicações) pela premiação.
Enfim, fiquemos com a última edição da Cinema Scope.
oscar oscar oscar oscar oscar
Falando em colunismo social: saíram as indicações da edição de 2024 do Oscar. Como eu já havia comentado na edição anterior da Recortes, as previsões são sempre muito previsíveis: acabou que eu cravei a lista completa dos indicados para Melhor Filme!
Caso você tenha interesse em ver algum deles, segue um guia de onde e como você pode assistí-los legalmente.
Em streaming:
Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese – AppleTV+.
Oppenheimer, de Christopher Nolan – Locação na Prime Video (R$ 14,90) ou na Apple TV+ (R$ 14,90).
Nos cinemas:
Atualmente em cartaz:
Vidas Passadas, de Celine Song.
Os Rejeitados, de Alexander Payne.
Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet.
Estreia em breve:
Zona de Interesse, de Jonathan Glazer – 15/02.
Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos – 01/02.
American Fiction, de Cord Jefferson – Sem previsão de estreia.
A 96ª edição do Oscar acontece daqui a dois meses, no domingo do dia 10 de março.
entrevistas da semana
🤔 o que assistir nesse final de semana?
le cinéma club (gratuito): Oraib Toukan
A plataforma de streaming Le Cinéma Club disponibilizou o curta-metragem Offing (2021), da artista estadunidense Oraib Toukan.
Sinopse: Uma exploração da maneira como as imagens entram em nossa consciência, emolduradas pelas margens de Gaza.
Duração: 28 minutos. Disponível até sexta-feira que vem.
mubi ($): Aki Kaurismäki
A MUBI disponibilizou o filme Folhas de Outono (2023), do cineasta finlandês Aki Kaurismäki. A obra ganhou o Prêmio do Júri em Cannes e chegou a fazer parte dos pré-indicados para a lista de Melhor Filme Internacional do Oscar.
Sinopse: Ansa e Holappa são duas almas solitárias cujo encontro casual em um bar enfrenta vários obstáculos.
Duração: 81 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
🍿 links de interesse
🎥 O jornalista David Canfield publicou um artigo sobre a história do relacionamento amoroso não-tão-secreto entre os atores Cary Grant e Randolph Scott [artigo].
🇩🇪 O Festival de Berlim anunciou a seleção de filmes para sua próxima edição! Entre os cineastas participantes: Abderrahmane Sissako, Mati Diop, Hong Sang-soo e Ruth Beckermann [website].
🇨🇳 Para acompanhar a retrospectiva do cineasta Edward Yang, que rola atualmente no Film At Lincoln Center, o crítico escreveu um ensaio sobre a prolífica carreira do cineasta taiwanês [texto].
🥋 O crítico Sean Gilman republicou no seu blog pessoal o texto “The Shaolin Cinematic Universe”, um guia para o cinema de Kung Fu focado no famoso mosteiro budista Templo Shaolin [artigo].
A Recortes tem como interesse fornecer para sempre seu conteúdo de forma gratuita. Se você aprecia o nosso trabalho, considere tornar-se um inscrito pago pelo Substack ou fazer uma contribuição individual.
“Folhas de Outono” merece uma resenha, um filme atual da sociedade em “países ricos”