📝 ensaios e entrevistas
retrospectiva 2023, e o que esperar de 2024
Acabou! Sim, essa é a última Recortes do ano! Não consigo nem pôr na minha cabeça que eu consegui redigir 28 edições para vocês. Foi um ano maravilhoso. Obrigado por continuarem a ler até aqui. Aliás, sintam-se lisonjeados por eu ter tirado energias não sei de onde para continuar escrevendo para vocês enquanto via meu time derreter no Brasileirão. Sofri muito, ok? Enfim: O que rolou de bom no cinema esse ano?
Eu sou um fã nato de listas. Sempre gosto de ler todas publicadas nessa reta final de ano, mesmo que elas sejam sempre meio similares umas as outras devido ao peso dos lançamentos de festivais. Eu destaco aqui o Top 10/20 das revistas Cahiers du Cinéma, Film Comment, Screen Slate, e dos nossos amigos na Vertovina. Pelos cálculos da minha cabeça, os mais bem colocados foram:
Anatomia de uma queda, dir. Justine Triet
Folhas de Outono, dir. Aki Kaurismäki
Assassinos da Lua das Flores, dir. Martin Scorsese
Segredos de um Escândalo, dir. Todd Haynes1
Afire, dir. Christian Petzold
A lista que eu mais antecipo nesse reta final de ano sempre acaba sendo a da Screen Slate, que não requisita necessariamente dos seus convidados uma lista de lançamentos, apenas suas descobertas favoritas feitas durante 2023. Entre as listas que mais me interessaram:
A crítica de cinema Amy Taubin repassou sua sempre aguardada lista de final de ano da revista Artforum para a Screen Slate. Isso se deve pela demissão de seu editor-chefe David Velasco, retirado do comando da publicação após ter compartilhado uma carta aberta expressando solidariedade ao povo palestino e defendendo um cessar-fogo em Gaza.
O John DeMarsico, diretor de jogos para as transmissões do New York Mets2, trouxe uma lista recheadíssima de filmes da Nova Hollywood.
A atriz Isabelle Huppert aparenta estar fazendo dever de casa para atuar no próximo filme de Dario Argento.
O crítico Carlos Valladares compartilhou uma lista de leitura impecável.
A diretora Kit Zauhar compartilhou alguns de seus Tik Toks favoritos.
Para além das listas, alguns críticos redigiram bons artigos refletindo sobre o ano. No seu tradicional apanhado de final de ano para a New Yorker, o crítico Richard Brody escreveu sobre o estado dos diferentes meios de produção do cinema. Segundo ele, apesar de enxergar com bons olhos o reerguimento da popularidade do cinema de estúdio mais “autoral” (particularmente pela sua defesa incessante do filme Barbie), o cinema independente ultra-low-budget está precisando de uma revitalizada.
Para a ArtReview, a escritora Caitlin Quinlan publicou um ensaio bem provocativo intitulado “If It Makes You Cry, It Must Be Good”. De acordo com Caitlin, existe hoje uma certa tendência no cinema norteamericano de obras com “temas universais, porém inespecíficos”, que enxerga um maior autorreconhecimento do público (“ver a si mesmo na tela”) como sua maior qualidade, em troca de narrativas mais direcionadas e, na opinião da escritora, melhor elaboradas.
E o que esperar para 2024? Olha, das obras praticamente confirmadas para o próximo ano, eu estou particularmente animado para estes daqui:
I Saw the TV Glow (Jane Schoenbrun)
Good Grades (M. Night Shyamalan)
We Shall Be All (Jia Zhang-ke)
O 4º filme de Jordan Peele.
Materialists (Celine Song)
A minha grande expectativa é descobrir o que vai ser da Lady Gaga no papel da Arlequina em Joker: Folie à Deux. E obviamente os dois ou três filmes que o Hong Sang-soo lançar. As notícias das próximas edições dos grandes festivais de cinema também já vem pipocando nessas últimas semanas:
O Festival de Berlim anunciou a presidente do júri para sua 75ª edição: A atriz quênio-mexicana Lupita Nyong’o! A mostra acontece em breve, do dia 15 a 25 de fevereiro de 2024.
Na França, o Festival de Cannes anunciou que a cineasta que presidirá o júri será Greta Gerwig, realizadora do recente Barbie. Cannes rola lá mais para a metade do ano, do dia 14 ao 25 de maio [artigo].
E lá pelos Estados Unidos, o Festival de Sundance anunciou a seleção de filmes para sua próxima edição. Entre os diretores presentes, teremos Jane Schoenbrun (We're All Going to the World's Fair), Steven Soderbergh (Magic Mike) e Pedro Freire, que representará o Brasil na competição de cinema mundial com o filme Malu.
state of cinema 2023: Alice Diop
Todo ano, a revista digital Sabzian conduz um evento conduzido onde um cineasta é convidado para escrever um manifesto sobre o “Estado do Cinema” e escolher que se conecta com ele. Para este ano, a convidada de honra foi a cineasta francesa Alice Diop, realizadora do filme Saint Omer (2022), que venceu o Grande Prêmio do Júri no penúltimo Festival de Veneza.
Em seu discurso, Alice relatou a experiência de assistir pela primeira vez o curta-metragem de Sarah Maldoror, Monangambeee (1969), reforçou seu interesse pela arte “criada nas sombras, nas margens, na periferia do mundo”, e reiterou a importância que o cinema tem em valorizar as contribuições de artistas negligenciados em sua história:
No interesse de meu próprio cinema, essa é uma missão que me proponho a cumprir: apoiar-me nos ombros de todos aqueles que estiveram aqui antes de mim e tentar, graças a eles, enxergar mais adiante.
A fala completa da diretora está disponível no site da Sabzian, e, assim como no ano passado, me dei o direito de publicar uma tradução para português no Letterboxd. Para a exibição especial deste ano, Alice escolheu Sambizanga (1972), primeiro longa-metragem de Sarah Maldoror.
entrevistas da semana
🤔 o que assistir nesse final de semana?
youtube (gratuito): Sarah Maldoror
Um bom samaritano publicou no YouTube a versão restaurada do filme exibido no State of Cinema 2023, e com legendas em português! A história do filme é baseada no romance A vida verdadeira de Domingos Xavier, do escritor luso-angolano José Luandino Vieira.
Sinopse: Domingos Xavier é um revolucionário do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Após ser preso por militares portugueses, é levado para uma prisão em Sambizanga. Sua esposa Maria o procura, temendo que possa estar sendo torturado ou que tenha sido morto.
Duração: 102 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
belas artes à la carte ($): Yasujirō Ozu
A plataforma de streaming À La Carte disponibilizou o filme Era uma Vez em Tóquio (1953), clássico do cineasta Yasujirō Ozu.
Sinopse: Um casal de idosos deixa sua filha no campo para visitar os outros filhos em Tóquio, uma cidade onde eles nunca tinham ido. Porém, os filhos os recebem com indiferença, e estão sempre muito atarefados para terem tempo para os pais.
Duração: 136 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
🍿 links de interesse
🇯🇵 Em homenagem aos 120 anos do nascimento do cineasta japonês Yasujirō Ozu, o diretor Carlos Adriano redigiu um artigo para a Folha de São Paulo [ensaio].
🐋 A produtora A24 e o game designer Hideo Kojima anunciaram nessa quinta-feira (14/11) uma parceria para produzir uma adaptação cinematográfica do video game Death Stranding (2019) [site].
🏆 Lembram da enquete de melhores filmes de todos os tempos publicada pela Sight & Sound no final do ano passado? Claro que você se lembra. Bem, a Sight & Sound decidiu publicar uma lista um tanto mais curiosa – um compilado dos 101 melhores filmes que receberam apenas um voto na enquete do ano passado [site].
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Ainda não assisti Folhas de Outono, mas May December é o meu favorito disparado dentre os cinco.
Ainda pretendo falar sobre o trabalho dele na Recortes.