📝 ensaios e entrevistas
r.i.p William Friedkin (1935 – 2023)
Faleceu nessa segunda-feira (07/08) o cineasta estadunidense William Friedkin, uma das estrelas do movimento da “Nova Hollywood” e responsável por clássicos como A Conexão Francesa (1971) e O Exorcista (1973). Apesar destes dois sucessos estrondosos de público e crítica, William teve uma carreira difícil devido o o fracasso comercial de obras como Sorcerer (1977) e o polêmico Crusing (1980). Seu filme final, The Caine Mutiny Court-Martial, uma adaptação do livro de Herman Woulk, será exibido no Festival de Veneza deste ano.
Entrevista com o diretor por Sven Mikulec, Cinephilia & Beyond, 2015 [entrevista].
The Friedkin Connection: A Memoir, autobiografia de Willian Friedking, 2013 [epub].
Sorcerers: uma conversa entre William Friedkin e Nicolas Winding Refn, 2015 [vídeo].
A Possessão no cinema de William Friedkin, ensaio por Luiz Fernando Coutinho [ensaio].
Extra: William fala sobre a estreia do filme O Exorcista II - O Herege (1977) [vídeo].
para que(m) serve, hoje, a crítica de cinema?
Na Folha de S. Paulo deste mês de julho, o jornalista Claudio Leal publicou um artigo fortemente crítico sobre o que ele identifica ser uma colonização cultural que tem historicamente contaminado as salas de cinema brasileiras — “Barbie: Ninguém mais se espanta com o domínio cultural”.
Tomando como exemplo o fenômeno marqueteiro Barbenheimer, Claudio pontua que, apesar da crítica de cinema ter mérito na discussão sobre os aspectos estéticos de ambos os filmes, o debate sobre os impactos mentais e econômicos da dominação norte-americana da indústria cinematográfica segue bastante limitado. Com o adiamento da ANCINE sobre a decisão da lei de cota de tela1, ambos os lançamentos têm ocupado mais de 80% das salas de cinema do Brasil, isso sem contar a presença de outros gigantes do mercado, como o novo Missão Impossível. O cineasta brasileiro se encontra asfixiado pelo mercado, enquanto que a crítica sofre uma tendência de discutir mais o cenário estrangeiro que o nacional:
A bossa nova, o cinema novo, a tropicália e o cinema marginal contribuíram para a emancipação simbólica do país sem renunciar à influência estrangeira e, sobretudo na música, sem se negar a conflitos dentro da indústria cultural. O hip-hop também exibe suas conquistas. Mas cabe questionar se o estágio de libertação antropofágica do cinema se encontra agora em processo de recuo.
Os blockbusters devolvem espectadores às salas esvaziadas pela pandemia, mas, ao as ocupar sem freios, oprimem a vida comercial do filme brasileiro, à margem da margem na própria sociedade que julga refletir e representar.
O artigo de Claudio brota num momento interessante, meros dias antes da jornalista Manuela Lazic, do The Guardian, publicar o artigo “What are film critics for today?”2 — uma reflexão sobre a crescente influência nas estratégias de marketing e o seu impacto no meio da crítica de cinema.
Manuela apontou para o caso das sessões de cabine do filme Barbie, nas quais influenciadores digitais foram convidados no lugar de críticos de cinema, e recebidos com lanches, presentes, etc. Na sessão, os produtores esclareceram que eles poderiam se sentir livres em “compartilhar seus sentimentos positivos no Twitter após o fim do filme”. Numa jogada de mestre, as redes sociais se tornam o acobertamento perfeito para a crítica especializada.
Ainda que essas táticas sejam típicas dos grandes estúdios, buscando um sucesso garantido nas bilheterias, a tendência desses práticas é o prejuízo na qualidade da análise fílmica; o enfraquecimento da discussão crítica imparcial; a desvalorização de publicações voltadas para o mercado cultural, e, por consequência, o encorajamento de editores destas a pagarem cada vez menos seus escritores.
Essa discussão não é nada nova – existem críticos que acreditam que seus colegas de profissão já se permitem (voluntário ou involuntariamente) fazer parte da “engrenagem do sistema”. E isso tudo sem entrar na discussão de quem tem o direito (ou não) de ser crítico.
retrospectiva howard hawks
A Cinemateca do MAM Rio publicou na última semana um catálogo para a Retrospectiva Howard Hawks, uma mostra gratuita da instituição que rolou até este último domingo (06/08). O catálogo reúne 29 textos inéditos sobre a filmografia quase completa do cineasta estadunidense Howard Hawks.
O catálogo foi organizado por Ruy Gardnier e reúne ensaios por André Fernandes, Anita Gonçalves, Beatriz Saldanha, Carolina Azevedo, Filipe Furtado, Gabriel Carvalho, Gabriel Papaléo, Gilberto Silva Jr., Henrique Quadros, Hernani Heffner, Igor Nolasco, Inácio Araújo, João Pedro Faro, Letícia Weber Jarek, Luca Nicolleli, Lucas Bueno, Lucas Saturnino, Luiz Carlos Oliveira Jr., Matheus Zenom, Paula Mermelstein, Paulo Martins Filho, Pedro Serpa, Rafael Miranda, Raul Arthuso, Roberta Pedrosa, Rubens Fabricio Anzolin, Ruy Gardnier e Tomás Farias.
entrevistas da semana
Júlio Bressane, O Globo: Estreando agora nos circuitos de cinema, Julinho discute Capitu e o capítulo (2021), seu penúltimo filme, uma adaptação do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Richard Kelly, The Film Stage: O responsável por trás de filmes cult como Donnie Darko (2001), Southland Tales – O fim do mundo (2006) e A Caixa (2009) abre o jogo sobre seus futuros projetos.
Tsai Ming-liang, Swissinfo: Após receber um prêmio especial por sua carreira no Festival de Locarno, o cineasta malaio teve um breve papo sobre sua filmografia e suas novas instalações.
Zack Snyder, Letterboxd: Uma extensa conversa com o diretor de Liga da Justiça sobre seu filme Sucker Punch - Mundo Surreal (2011).
🤔 o que assistir nesse final de semana?
Por convite da Recortes, as indicações desta semana são de
, escritora responsável pela newsletter .youtube (gratuito): Albert Birney
O diretor Albert Birney disponibilizou no YouTube um compilado em formato de longa-metragem para os 79 episódios de sua pitoresca série de animação experimental Tux and Fanny.
Sinopse: As aventuras de Tux e Fanny, dois amigos que vivem juntos numa casa na floresta.
Duração: 82 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
mubi ($): David Fincher
A MUBI disponibilizou Garota Exemplar (2014), penúltimo longa-metragem de David Fincher3. Seu filme novo, The Killer, estreia mês que vem no Festival de Veneza e terá estreia mundial em novembro pela Netflix.
Sinopse: No dia de seu quinto aniversário de casamento, Amy desaparece. Quando as aparências de uma união feliz começam a desmoronar, Nick, seu marido, torna-se o principal suspeito. Com a ajuda de sua irmã gêmea, ele tenta provar sua inocência, ao mesmo tempo em que investiga o que realmente aconteceu com a mulher.
Duração: 149 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
🍿 links de interesse
🚘 A penúltima terça-feira (01/08) marcou o aniversário de 75 anos do filme Amarga Esperança (1948), de Nicholas Ray [trailer do filme].
📚 O crítico e professor de cinema Ruy Gardnier vai ministrar um novo curso online de cinema: ‘Estratégias, Narrativas, Personagem e Intriga’. Com duração de 16 aulas, o curso começa no final deste mês de agosto, no dia 21 [tweet].
✊ Após anos de exploração pela indústria, os artistas responsáveis pelos efeitos especiais dos filmes da Marvel estão votando para formar o primeiro sindicato em defesa dos direitos trabalhistas de trabalhadores de VFX [artigo].
🖊️ Em mais um capítulo da greve dos atores e roteiristas de Hollywood, a WGA e a AMPTP estão considerando se reunir novamente para negociar possíveis acordos. A paralisação segue com imenso apoio popular e não tem fim à vista [artigo].
💣 Falando na greve, a repórter Inkoo Kang publicou um artigo pela New Yorker discutindo o atual estado de Hollywood — desde o surgimento das plataformas de streaming, as condições de trabalho nos grandes estúdios só tem piorado, com demissões em massa colocando instituições lendárias à risco de falirem. Inkoo procura entender o porquê [artigo].
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Nome dado a uma obrigação legal que as empresas exibidoras (UCI, Cinemark, etc) possuem de incluir em sua programação obras cinematográficas brasileiras de longa-metragem. A lei existe desde o ano de 1932, e a cota é decidida anualmente por decreto presidencial, no entanto sua votação foi adiada por tempo indeterminado no ano de 2020.
O crítico André Renato publicou uma tradução em português para o artigo em seu blog.
Alguém assistiu Mank (2020)?