📝 ensaios e entrevistas
new republic – "cinema político"
A revista estadunidense New Republic publicou na última quinta-feira (22/06) uma lista com “os 100 filmes políticos mais relevantes da história”. Organizada pelo escritor James Hoberman, os filmes foram selecionados a partir de uma votação feita por 79 críticos, todos listados no final da página do portal.
Apesar da lista possuir uma seleção relativamente interessante, ela nos faz questionar: O que é um “filme político”? O que caracteriza um filme como sendo “político”? E por acaso existe um filme que não é político? Entendo que alguns filmes possam ser vistos de tal maneira por tratarem mais diretamente de questões relacionadas à sociedade, a injustiça social e afins, mas não creio que isso implica, necessariamente, que estes sejam mais eficazes em exercer sua influência em termos de impacto político. Curiosamente, o apontar desse conceito como limitante parece já ter sido esperado por James, orquestrador da votação, visto que ele decidiu atacar a ideia no seu mais recente artigo, ‘What Is a “Political Film,” Anyway?’, publicado pela revista em conjunto com o resultado da votação.
Dito isso: enquanto a existência ou não do suposto gênero fílmico acima é discutida, nós podemos polemizar o resultado da votação! Por um lado, é natural que o resultado da lista seja composto quase inteiramente por filmes norte-americanos1, visto que a maioria dos críticos convidados residem no país, mas duas coisas me surpreenderam:
Nenhum filme de cineastas “tipicamente políticos” tal qual Frederick Wiseman, Glauber Rocha, Pier Paolo Pasolini ou Nagisa Ōshima.
Apenas 7 filmes da lista são do sul global. Entre eles:
Cinco filmes da América Latina: Dois deles chilenos, e outros quatro respectivamente da Argentina, Chile, Cuba e Haiti (nenhum brasileiro!);
Dois filmes asiáticos, ambos chineses, ambos do diretor Jia Zhangke;
Nenhum filme do continente africano.
Em resposta, a Recortes produziu, com a ajuda de
, escritor da newsletter , uma lista no Letterboxd compilando 100 filmes “políticos” do sul global. A lista inclui:40 filmes latino-americanos (Brasil, Cuba, México, Argentina, …);
40 filmes asiáticos (Índia, China, Irã, Palestina, Vietnã, …);
20 filmes africanos (Senegal, Egito, Mauritânia, Burkina Faso, Angola, …)
entrevistas da semana
Júlio Bressane, Folha de S. Paulo: Julinho fala sobre a concepção de seu novo filme (de 7 horas de duração!), A Longa Viagem do Ônibus Amarelo, que terá sua estreia nacional no 1º de julho, na Cinemateca do MAM, pelo Festival Ecrã.
David Fincher, Variety: O cineasta comenta sobre seu novo filme, The Killer, confirma um lançamento remasterizado em 4K de Se7en (1995), e defende com unhas e dentes sua adaptação de Millenium (2011).
Gregg Araki, Metrograph: Um extenso papo com o diretor norte-americano, figura aclamada do “New Queer Cinema”, sobre sua filmografia.
Catherine Breillat, Notebook: A francesa fala sobre Last Summer, exibido em competição no último Festival de Cannes.
🎏 cobertura de festivais
a 12ª edição do olhar de cinema
Terminou nessa última quinta-feira (23/04) a 12ª edição do festival “Olhar de Cinema”, o Festival Internacional de Curitiba.
Na mostra competitiva nacional, o vencedor de longa-metragem foi para o documentário Neirud, de Fernanda Faya, e a estatueta de melhor direção foi entregue às cineastas Suellen Vasconcelos e Tati Franklin, responsáveis pelo filme Toda noite estarei lá. Já no âmbito internacional, o prêmio de melhor longa ficou para Anhell69, do colombiano Theo Montoya.
As revistas digitais de cinema ‘Multiplot!’ e Plano Aberto fizeram uma cobertura do festival. Não deixe também de conferir a lista completa dos premiados no site oficial do “Olhar de Cinema”!
🤔 o que assistir nesse final de semana?
vimeo (gratuito): Richard Misek
O diretor inglês Richard Misek disponibilizou gratuitamente o seu último curta-metragem, A History Of The World According To Getty Images (2022), na plataforma Vimeo.
Sinopse: Uma montagem de imagens dos eventos mais marcantes do século passado forma a base de uma reflexão sobre como vemos o passado – e como os registros comerciais o controlam.
Duração: 18 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
mubi ($): Kinji Fukasaku
A MUBI disponibilizou no seu catálogo o filme Batalha Real (2000), adaptação do livro homônimo de Kōshun Takami pelo cineasta Kinji Fukasaku.
Sinopse: Em uma versão fictícia do Japão, alunos do ensino médio são forçados a lutar um contra o outro até a morte em um programa de televisão administrado por um governo totalitário, agora conhecido como a República da Grande Ásia Oriental.
Duração: 113 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
🍿 links de interesse
🕺 Essa segunda-feira (26/06) foi o aniversário de 53 anos do diretor Paul Thomas Anderson! [tweet].
🧑⚖️ O cineasta Clint Eastwood foi avistado recentemente no estado da Geórgia, nos EUA, gravando o que talvez seja seu último filme: Juror #2 [artigo].
📡 O diretor Brian Rose está produzindo uma restauração da versão perdida de The Magnificent Ambersons (1942), clássico de Orson Welles que foi significativamente modificado pela produtora RKO Pictures antes de seu lançamento [artigo].
🇮🇹 A revista Variety já tem um furo sobre possíveis obras indicadas para a seleção do Festival de Veneza deste ano: O novo de Sofia Coppola, Priscilla, o aguardadíssimo Ferrari, novo filme de Michael Mann, e… o novo filme de Woody Allen, Coup de Chance [artigo].
🕷️ Enquanto o filme faz imenso sucesso na bilheteria, vários artistas envolvidos na produção de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso revelaram as difíceis condições de trabalho no processo, envolvendo semanas com 7 dias corridos e duração superior a 11 horas [artigo].
🎭 Quase 98% dos membros da Screen Actors Guild, o sindicato que representa mais de 120 mil atores nos EUA, votou a favor de uma greve na defesa de melhores salários e de maior proteção contra o uso não autorizado de suas imagens por meio da inteligência artificial [artigo].
🧑💻 O Letterboxd, uma das redes sociais de cinema mais populares da Internet, anunciou que a forma que o portal rankeia o top 250 de filmes da comunidade seria alterada. A Fabiana Lima do Cinemafilia fez uma thread explicando como isso afeta o alcance de filmes independentes e do sul-global na plataforma [blogpost|thread].
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33 filmes do Top 50 são norte-americanos. No Top 100, são 56 filmes.
Como sempre uma aula de cinema!
Senti falta na lista dos filmes políticos:
Brasil: Eles não usam black tie (1981),
Democracia em vertigem (2019)
Argentina: A historia oficial (1985), O segredo dos seus olhos (2009) e Argentina (2022)
Las Sandinistas (1979) de Nicarágua foi um filme americano?